Propósito
Seu caminho criativo sempre começa por alguma razão. E ainda: flash games, Idea magazine, The Boys, inteligência artificial, Roger Corman, síndrome de impostor, Todd McFarlane
Edição 10 • 22 de outubro, 2020
PARA VOCÊ, O QUE É PROPÓSITO? Confesso que venho pensando mais nisso desde o início desta pandemia, neste ano diferente em que vivemos. Falo de propósito na carreira e na vida criativa, aquilo que você cria e que tem um impacto em alguém, de alguma maneira. Conforme o tempo passa e nosso trabalho se torna mais habitual, podemos realmente não considerar o propósito do que estamos fazendo, podendo levar anos até que comecemos a nos questionar sobre o porquê disso tudo. O momento atual contribui para isso.
Vejo propósito como uma missão — algo que podemos associar a professores, médicos e até astronautas, mas é parte importante de qualquer coisa que fazemos em nossas vidas. Comigo, talvez por ter sido professor e, mesmo depois, ter ocupado posições em equipes nas quais as decisões dos outros dependiam das minhas, criar algo que também faça sentido para outras pessoas sempre foi parte do propósito. Claro, cada projeto ou trabalho tem a sua missão, mas eu me divirto sempre no que faço e, acima de tudo, o faço e crio sempre, em primeiro lugar, porque estou seguindo meus desejos e aquilo que me completa como profissional.
Ou seja, criar tendo em mente a satisfação das pessoas que gostam do meu trabalho (como você, aqui na Mondo, obrigado! 🙏🏻), ao mesmo tempo em que isso atenda aos meus melhores interesses, como fazer o trabalho que eu desejo. É um propósito. Se você gosta do tipo de trabalho que faz — qualquer que seja, escrever, pintar, fazer música, criar eventos, design, fazer shows, filmes, vídeos etc — e confia no seu gosto, no seu potencial e também na própria intuição, é provável que outros também gostem do que você faz. Agora, fazer algo que você apenas acha que os outros vão gostar quase nunca funciona, resultando em trabalhos ou projetos sem alma, sem sentido, que nem você vai realmente se importar, dentro de algum tempo.
Para outras pessoas, o propósito talvez esteja ligado à aceitação, via likes, ou a mecanismos de comparação, como o mundo às vezes nos faz crer. Talvez seja mais pessoal, ao querer criar um legado, uma empresa ou ganhar algum prêmio. Ou algo mais específico, como o reconhecimento em alguma área. Acredito que é perfeitamente normal ter objetivos mais materialistas, já que esses podem significar a sobrevivência e eu também tenho os meus. Mas, se em excesso, esses objetivos também podem nos deixar com a sensação de vazio ou de falta de propósito. Porque, tentar incessantemente alguma coisa que só faça algum sentido momentâneo, pode não ter tanto significado. Para mim, sempre pode existir algo mais profundo que isso — como este ano vem mostrando a cada dia.
E você pode até pensar: "e um trabalho no qual não se percebe o propósito, além de ganhar dinheiro?" Quem sabe, não seja esse mesmo o objetivo, a missão do momento, numa preparação para um salto maior e mais importante, à frente? Tudo tem um motivo, não acha? E, sim, isso já aconteceu comigo — acho que acontece com qualquer um. Afinal, a vida é cíclica, não é?
Outra coisa é que não há problema algum em desenvolver um projeto criativo cujo objetivo seja trazer alegria e uma sensação de bem-estar a você. Ficar contente ao encontrar satisfação interior não é uma busca egoísta — muito menos sem qualquer impacto no mundo. Creio muito que, se você estiver criando um trabalho que lhe traga alegria, você também estará trazendo mais alegria ao mundo por meio de cada interação com ele. Mesmo que ninguém perceba seu trabalho além de você. Se o que você faz está trazendo alegria e satisfação e, portanto, você está envolvendo o ambiente à volta com mais energias do tipo, seu trabalho ou projeto é benéfico para você e para o mundo. Bom, é o que penso, por mais autoajuda que possa parecer. Mas é o que penso. Funciona muito bem para a saúde mental, acredite — e, no mundo atual, isso deveria ser uma recomendação.
Mesmo que a gente não perceba, tudo tem seu propósito. Então, é importante ter um ângulo que possa ser expresso em palavras e contar uma história. O propósito pode estar bem aí. Eu costumo usar essa abordagem nos projetos que faço, porque me ajuda a definir alguns temas e criar uma linguagem em torno de como o trabalho será apresentado. Lembro dos primeiros textos que escrevi, no início da década de 2000, e que se encaixam nisso. Porque, quando me dei conta, estava recebendo emails, veja só, pedindo conselhos e discutindo ideias, naquele tempo da internet dos blogs. Ao mesmo tempo em que me entusiasmava, eu sempre "congelava", duvidando de mim mesmo e do que criara: era muita responsabilidade! Então, entendi que, a partir daquela criação, eu estava gerando algum valor para um certo público, uma audiência — valor que vinha, justamente, do propósito do trabalho criativo então desenvolvido. Significava que o círculo estava completo: começava com o propósito → se transformava num valor → retornava ao propósito. E assim, o trabalho fluía.
Isso acontecia, também, porque o que escrevia estava alinhado a algumas causas: educativas, mas também sociais e de comportamento. Refletiam em algumas pessoas e traziam luz para temas que, então, apenas começavam a ser discutidos no mundo corporativo-criativo. Interferência aqui: foi com a internet, há cerca de 20 anos ou um pouco mais, que os assuntos, anseios e incômodos de muita gente se tornou público e compartilhável, identificável. Isso também era um propósito naquela época!
Então, voltando à pergunta inicial: o que é propósito para você? Melhor: qual o seu propósito naquilo que você faz? Já pensou nisso? É libertador refletir a respeito e analisar os porquês deste momento só seu. Para mim, um trabalho ou projeto com um senso de propósito firme e claro é como um campo magnético para o qual somos atraídos. É meio surreal? Abstrato? Pode ser. Devo ter "viajado" um pouco aqui… Mas, como este é um espaço para reflexões e viagens, desculpe qualquer coisa, vamos adiante, mas não deixe de pensar no seu propósito. ■
Mix
Uma visão da vida criativa na mídia nesta semana: Comportamentos e comentários misóginos são comuns no LinkedIn, que, pra mim, é uma das redes sociais mais tóxicas atualmente. No Fast Company, uma história sobre como algumas mulheres estão se organizando para reagir e responsabilizar a empresa por permitir esse tipo de comportamento. @@ No site Gama, Marcello Dantas trata da possível ameaça que seria a inteligência artificial sobre a criatividade — música, arte, poesia etc. A sugestão (ou desafio) seria levar nosso conhecimento a um novo nível de cognição e inventividade. Ou, usar mais o cérebro. @@ Os trajes dos super-heróis da série The Boys, do Amazon Prime, são resultado de muita pesquisa sobre ciência, cultura pop e a moda. É o que diz o Vulture (foto acima), que revela também que houve uma preocupação em parecer verossímil e moderno, sem deixar de fazer referências ao que as pessoas pensam de super-heróis, ao mesmo tempo em que satiriza suas vestimentas. @@ Uma deliciosa entrevista com Roger Corman, o mais famoso e icônico diretor e produtor de filmes B em atividade. No Medium da revista Bravo, que o entrevistou por conta do curta filmado pelo diretor Ivan Cardoso, O Colírio do Corman. @@ Na Época Negócios, uma relação entre a psicodelia dos anos 60 e 70 e a onda de criatividade e inovação nesse período. Livros e estudos mostram que mesmo empreendedores do Vale do Silício usam drogas — o que, supostamente, os favoreceria nos negócios. Já existem até empresas investindo nesse nicho, de substâncias alucinógenas. @@ Hello, uptown! ✘ Alexandre Bobeda
Play
O que curti nos últimos dias e recomendo:
A história (animada) dos games em Flash. Lembra?
Um infográfico sobre a síndrome do impostor: se você sente que sua posição profissional não te pertence, se cuida.
Este teste para desenhar logos só lembrando “de cabeça”. Divertido!
Recomendo a entrevista, abaixo, com Marco Antônio Vieira Souto, Head de Estratégia do Grupo Dreamers (ex-Artplan, a do Rock In Rio). Ele fala sobre ageism, o preconceito e estereótipos contra quem envelhece, no contexto da comunicação e da publicidade. É importante porque, em alguns anos, seremos nós que vivenciaremos isso, pode crer. Mas, o papo foi bem além do tema, bastante divertido e esclarecedor em vários aspectos. Além disso, esse canal, EME, é ótimo, com muito conteúdo bacana.
Olha Isso
A bela capa, minimalista e abstrata, da edição de outubro da Idea, uma revista japonesa de design.
Falando no Japão…
Que tal um Godzilla em tamanho real?
GIFInspiração
No último minuto…
Quando parecia que não iria rolar, eis que tudo se resolve. Quem nunca?
Mondo é uma newsletter com o propósito de tratar da vida criativa, enviada sempre às quintas-feiras. Que tal encaminhá-la para uma pessoa tão criativa e cheia de propósito quanto você?
Obrigado por ter chegado até aqui. Obrigado por estar aqui: se cuida!
Tem comentários? Eu adoraria saber as suas opiniões: fica à vontade para entrar em contato e contar suas impressões, viu? Ou dizer qualquer outra coisa. É só escrever para hola@houseofx.com.br.
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Imagens: [Texto principal: Colagem, Alexandre Bobeda; Giphy | Mix: Amazon Studios | Olha Isso: Idea Magazine | GIFInspiração: Giphy]