Mondo #5: Bons tempos
Resgatar momentos essenciais da vida profissional e refletir sobre algumas questões podem ajudar. E mais: Disclosure, redes sociais, Disney, Autoramas, dark mode, Emigre
Ano 1 • № 5 • 17 de setembro de 2020
EM 2013, JÁ FAZIA ALGUNS ANOS que eu trabalhava numa grande empresa brasileira. A vida era bastante tranquila, mas a rotina era cansativa e desgastante, inclusive mentalmente. O fastio era tanto, que atingia, praticamente, todos aqueles que trabalhavam na mesma gerência que eu — mesmo os que fingiam que não. Para quem trabalha com criação, isso é o mesmo que uma vida em preto e branco.
Mas essa lembrança vai especificamente para uma semana de treinamentos já próximo do final daquele ano, na qual seria necessário passar os cinco dias úteis, horário comercial, confinado em sala de aula. Num daqueles dias, uma colega se aproximou e comentou de sua vontade de "cair fora" e viver a vida — tanto pessoal, quanto profissional — mas sem saber o que queria.
— Faz um exercício — eu respondi — e tenta voltar no tempo ao ponto em que você escolheu o que fazer lá atrás, na época da faculdade. É o que faço e, a partir daí, vou analisando. Pra mim, ajuda.
Ela ficou curiosa, mas refletiu por alguns segundos e me agradeceu, como se eu tivesse dito algo muito esclarecedor.
— Nossa! Obrigado, Bobeda! Nunca havia pensado nisso! — disse ela.
Resumi muito o papo, mas essa sempre foi minha prática quando sentia que perdia o controle da situação e estava a ponto de "me perder", num sentido mais figurado. Inclusive, não faz muito tempo descobri que existe um estudo sobre reviver memórias positivas, veja só. Como cada pessoa tem momentos que definem sua vida, resgatar tais momentos em períodos de incerteza, quando estes estão profundamente ligados a quem somos, pode ajudar a suportar certas crises. Momentos assim, de dúvida, principalmente profissional, sempre me provocaram esse estranhamento com a vida, tipo "onde estou agora e por que tudo está acontecendo dessa maneira ?" É óbvio que a culpa sempre era minha, mas fazer esse exercício de voltar no tempo e refletir sobre o que eu gostava, o que me fez fazer certas escolhas e em qual momento eu me sentia bem sempre funcionou para entender que medidas tomar para que a vida voltasse aos trilhos novamente. Porque não existe trabalho nem criação que resista a um mau momento, por mais que tentem "vender"o contrário.
Por conta disso, este texto é também como um manifesto visual, onde selecionei certas frases e caprichei no impacto da apresentação (risos meus). Algumas, talvez sejam familiares a você. Todas, carregam muita certeza e provocam reflexão. Cabe a você compreendê-las de coração aberto e pensar um pouco mais a respeito: umas, foram ditas diretamente a mim em algum momento; outras, li em algum lugar e, algumas outras, me passaram pela cabeça e senti que precisava escrevê-las. Acredito que possam servir de ponto de partida para novas reflexões.
E é por isto que o título deste texto é bons tempos: porque é a partir deles que tudo começa e é para onde precisamos voltar quando é necessário "recarregar as energias". É uma das minhas crenças. Inclusive, criei uma playlist para esta edição da Mondo, onde eu duvido que você não encontre uma música que remeta a um momento bacana ou especial que viveu. Escuta só, tá aqui embaixo:
Então, se você estiver em dúvidas, querendo respostas e tentando se situar, por algum motivo, neste momento, pare um pouco e reflita. Aquele “exercício” que citei no início do texto, de “retornar a determinado fato” na vida, para mim funciona, porque me leva até o ponto central de alguma questão. Vale experimentar.
Isto post, relaxe, aproveite e pense no que vai ler a seguir:
Sempre! Ficar decepcionado(a) com o erro é normal, mas se afundar nesse momento não. É se levantar e tentar de novo, porque sempre existem oportunidades escondidas em cada erro.
Isso aprendi com meus pais. Nem sempre consegui o que queria, mas sempre tive boas lições que foram úteis em momentos posteriores.
O que há são dias em que nos falta a inspiração. Dar uma volta e pensar em outras coisas, muitas vezes resolve.
Algo que aprendi com a experiência em diversos trabalhos, porque a criatividade não acontece totalmente se houver alguma dúvida.
Em tudo! Veja e conheça o que puder, o que quiser (não o que “deveria”) porque quase sempre tem um insight quando você precisa e menos espera. Ajuda a criar referências e construir repertório.
Com nada, nem ninguém. Ponto.
Isto é, a desenvolver a percepção e observar, interpretar e analisar para chegar a um conceito.
Por alguma razão, sempre. E, acima de tudo, é sempre por conta de suas escolhas.
Para quem é ansioso como eu, é meio difícil, mas se começar a exercitar a disciplina, é possível. Cuidar do tempo é essencial, para poder fazer tudo que é importante. ■
Mix
O que andei lendo nos últimos dias: Você saberia dizer quais filmes da Disney despertam mais interesse das platéias gays e trans? Nunca vi dessa forma, mas segundo a Vox, existem muitas mensagens implícitas em diversas animações. @@ A interseção cada vez mais comum entre música e games, na Rolling Stone, que mostra como a dupla Disclosure (foto) usou o Minecraft para lançar seu novo disco. @@ A Variety listou cinco pontos da cultura corporativa da Netflix, de acordo com o livro lançado pelo CEO, Reed Hastings. Um dele é pedir aos funcionários que saibam quanto o mercado paga para suas posições, para que eles sejam equiparados e não deixem a empresa. Nossa, tem muito por aqui, né? #sqn @@ A Gucci acaba de entrar na onda de criar roupas e tênis virtuais. Vai inclusive criar uma plataforma para isso. Você compraria? @@ Uma ótima entrevista com uma professora sobre o ofício de ensinar a escrever bem para alunos prestes a entrar na faculdade. No The Atlantic. @@ No Eye On Design, a história da interface escura em apps e computadores. Conhecida como "dark mode", tem sido bastante comum ultimamente. @@ Novos quadrinhos de artistas já estabelecidos fazem sucesso em sites de crowdfunding, revela o New York Times. @@ O que fazer para não se perder com excesso de informação nesta pandemia? É a questão do texto da TPM, com o qual me identifiquei muito. @@ Na Forbes, alguns profissionais da indústria criativa brasileira que fazem boas ações neste momento delicado. @@ Pow! ✘ Alexandre Bobeda
Play
O que curti ultimamente:
A coleção digital da icônica revista de design e tipografia Emigre.
O Dilema das Redes, excelente doc do Netflix que recomendo já! É muito esclarecedor sobre o funcionamento de todas as redes sociais que usamos e a manipulação praticada. Não perca por nada e se cuida.
No In-Edit Brasil, adorei o doc Nada Pode Parar os Autoramas, sobre como essa banda indie carioca lançou seu 3º disco sem grana. Divertido e cheio de lições nas entrelinhas sobre manter uma carreira criativa de forma independente. E o vocalista, Gabriel Thomaz, é uma figura!
Recomendo a seção "Eficiência Criativa", do Think With Google, que tem muita informação e dicas valiosas para aplicar design com criatividade em ações de marketing.
Be a Rebel, a nova do New Order e Half way & One Step Forward, uma do novo disco do Marilyn Manson.
E esses objetos que são meros truques do cinema? Que máximo!
Olha Isso
Maravilha este vídeo do ator Ethan Hawke, Give yourself permission to be creative. Ele trata da criatividade e seu poder de cura em nossas vidas. Bravo! Assiste, vai: tem menos de 10 min., legendas em PT-BR e vai te provocar a pensar um pouquinho.
E ainda…
GIFInspiração
Surpresa!
Nem tudo é o que parece…
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