Edição de Halloween
A realidade é que assusta - Edição especial de colecionador (e assinante também!)
Edição 11 • 29 de outubro, 2020
ESTA EDIÇÃO ESPECIAL DA MONDO é um pouco diferente das anteriores, já que seu conteúdo é inspirado pelo Halloween, além de levemente diferenciado do que você encontra nas demais edições. Halloween (ou "Dia das Bruxas"), hoje, é uma data mundial, com impactos e desdobramentos bastante fortes sobre os criativos, sendo ainda o 2º maior feriado comercial do mundo. Eu gosto da data e não dou a mínima para polêmicas em torno dela. Assim, trago logo abaixo um conto que escrevi há cerca de 10 anos e que estaria incluído numa continuação do meu 1º livro, o outro lado — e que, até agora, não saiu do papel! Este conto, Numa noite escura, cuja pegada é bastante similar aos demais já publicados, vai um pouco mais pro lado do suspense, embora não seja só isso… Ou seria? O conto sequer foi lançado antes, nem postado na web. Ou seja, é inédito, de fato, e a primeira vez que o publico, de alguma forma. 🎃 Alexandre Bobeda
Numa noite escura
Numa noite chuvosa, azul, púrpura e escura, um homem caminha tão apressadamente que até parece flutuar. Ele entra na primeira estação de metrô que encontra pela frente.
Passos rápidos e nervosos ao descer as escadas.
A sensação de estar só e vulnerável aumenta ainda mais com o estampido das batidas das solas dos sapatos sobre o chão. Passos ainda mais apressados e uma fumaça cinza, sem cheiro, que escapa pela saída da estação. Nada a pensar. A sentir, além do medo, um instinto de proteção e um ímpeto que o leva a passar pela roleta da estação com rapidez e perturbação. O estampido peculiar de metal frio contra metal, abrindo caminho, ecoa pelo corredor subterrâneo.
Quase escuridão. Poucas luzes.
Mas, cuidado! Ele está vindo atrás de você... Por favor, não olhe pra trás, não entre em pânico, não se desespere. Melhor não correr nem demonstrar ansiedade ou preocupação. Não! Não olhe, disfarce o nervosismo, você está só e, na hora do perigo, não há ninguém para salvá-lo.
Isto mesmo. Continue assim...
Você se sente melhor agora? Está mais calmo? Relaxado? Há pessoas suspeitas perto de você? E o homem mal-encarado no mesmo vagão?
Pode olhar à sua volta...
Percebeu como ele é?
Finja que não percebeu e nem sabe de nada, porque você não sabe mesmo! Segure a mochila. Aperte-a com firmeza.
Quer esconder o relógio? A carteira?
Melhor não... Discrição. Naturalidade.
Agora continue a viagem, que está demorando, não é?
Parece uma eternidade.
O ruído de certas vozes — abafado, meio distorcido — viaja.
As estações passam, mas o metrô dá a impressão de que continua lento, muito devagar — parece que não sai do lugar. E como brilham as luzes no túnel escuro, na noite intensa; lá fora, a lua branca, num fundo azul profundo com poucas nuvens.
Está chegando...
Desce, vai. Vai rápido, agora.
Ele pode estar atrás de você esperando o momento de atacar. Não olhe pra trás. Ele pode estar disfarçado na multidão, como muita gente comum. Como você.
Ele é tão comum como você. Quem sabe você até poderia estar no lugar dele... Quem sabe?
Vire à direita e depois à esquerda. Devagar, agora.
Não corra.
Suba as escadas, de forma que você pareça suspenso no ar. Ele vai atrás de você. Seus óculos deslizam pelo rosto.
Siga em frente, mas já são quase uma e meia da madrugada. Olhe as lojas... As ruas estão vazias, não há mais ninguém. Caminhe mais rápido. Caminhe mais e mais rápido. Você escuta o celular tocar, mas é melhor não atender mesmo. O som do toque parece ensurdecedor, mas é melhor suportar. A calmaria voltou. De novo.
A sombra do outro lado... Ele parece que está te seguindo. O telefone toca outra vez. Você não atende por que tem medo? Ou por que está meio perdido?
Uma sirene toca de forma ensurdecedora e as luzes pintam de vermelho toda a parede, até mesmo seu rosto, já púrpura pelo aparente pavor que te sobe e chega até à alma.
E você está andando de maneira cada vez mais rápida, mas suas pernas já doem bastante para suportar o ritmo alucinante que você mesmo se impõe. Cansado.
Lá fora, as ruas estão bastante calmas. A escuridão aconchegante cobre toda a extensão da calçada. O silêncio enfim chega. A calmaria. A luz neon na janela, no meio da noite escura.
Os braços deslizam ainda mais pelos lados da pequena poltrona. O pé direito sobre o esquerdo, em cima de um pufe. A respiração diminui. Os olhos se movem rapidamente.
Apenas o som da televisão em meio ao silêncio noturno.
A casa silenciosa; móveis com fotografias, ambiente à meia-luz. Na TV ligada, apenas o noticiário local, num volume baixo.
Segue o sonho numa noite escura.
Boa noite.
© Alexandre Bobeda / House Of X
Play
Dois curtas para entrar no clima de Halloween:
O Covil dos Condenados é um curta-metragem brasileiro bastante bem feito e que já teve vários reconhecimentos em festivais. Mostra um morador de rua buscando abrigo numa casa aparentemente vazia, que é mais sombria do que escura. O filme cria um clima de suspense/terror sem um único diálogo, mostrando que alguns bons sustos dependem só de uma boa fotografia — o componente psicológico de cada um cuida do resto.
Creepy Pasta Salad é inglês e foi indicado ao BAFTA, o “Oscar” britânico, neste ano. A realidade se mistura com o sobrenatural na história que, no fundo, é sobre solidão. E tem um visual bacana.
Bônus: tendências visuais do Halloween 2020
O blog do EyeEm, um marketplace de fotografias/visual e comunidade online de fotógrafos, listou algumas tendências de estilo visual para essa temática. Para mim, todas as imagens brincam com a interpretação e a sugestão num nível mais subjetivo — ou seja, extrapola o que pensamos sobre Halloween. Algo meio Black Mirror, digamos. Abaixo, algumas das que mais curti:
Trivia - Doces ou travessuras?
Esta veio direto do cursinho de inglês e eu jamais esqueci: Você sabe por que a palavra Halloween tem relação com a data católica do Dia de Todos os Santos?
GIFInspiração
Abóbora de Halloween
Porque, afinal, isto é Halloween!
[ Resposta Trivia: Porque a palavra Halloween, da festa do dia 31 de outubro, é uma contração da expressão “All Hallows Eve”, que significa “véspera do Dia de Todos os Santos”. ]
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