Contando sua história
Porque qualquer um pode (e deve) abraçar sua própria narrativa. E ainda: streaming, Maurício de Souza, criatividade, Olho Mágico, Videogames
Edição 12 • 5 de novembro, 2020
A partir deste mês, a Mondo passará a ser uma newsletter quinzenal, mas com duas edições/mês, no máximo. Isso acontece porque, nas últimas semanas, tive alguns trabalhos que me exigiram mais tempo disponível — o que será comum, agora que estou apenas no meu estúdio, House Of X, trabalhando por conta própria. Ao mesmo tempo, tenho tocado outras possibilidades em meus projetos pessoais e, embora quisesse, não dá pra fazer “tudo ao mesmo tempo agora” (Titãs, 1991). E eu agradeço por você estar aqui e vamos em frente. AB
QUALQUER PESSOA PODE CONTAR HISTÓRIAS, e com você, não é diferente. Eu já escrevi sobre narrativa, escrita e também como contar a própria história profissional algumas vezes, em textos diferentes. Em todos eles, ter atenção aos detalhes transmitidos faz a maior diferença. E é disso que trato aqui também: a história além do tema da história (ou seria outro tipo de metalinguagem?), com elementos que são seus e que estão nas palavras e nas atitudes. Não importa de onde você é ou o que fez, você também tem conteúdo. E, como qualquer um, você sempre pode contar uma história interessante sobre algo só seu.
O posicionamento é parte essencial do que torna sua história interessante — algo que tem tudo a ver com a maneira como você a conta. Assim, aqui estão algumas dicas que listei para ajudar a fazer exatamente isso. Desta vez, não é somente sobre como escrever, mas sobre o que levar em conta em sua narrativa, ao escrever, seja com ou sem palavras, se é que você me entende...
Seja honesto(a)
Como diz o autor britânico Simon Sinek, “As pessoas não compram o que você faz; elas compram o porquê você o faz”. Parece clichê, mas é exatamente isso. É compartilhar quem você é, o que te incentiva a criar e por quê você está em posição de fazer isso funcionar. As pessoas percebem a honestidade e, assim, elas compram sua motivação.
Quando se trata da arte de contar histórias — o famoso storytelling, o que deve sobressair é o humano que está do outro lado. É isso que cria conexões, que torna as pessoas parte do processo e as move a apoiar seu trabalho. Essas conexões humanas vêm da honestidade, naqueles momentos em que você compartilha o que anima ou incomoda, suas dores, seus amores ou seja o que for que leva você a criar.
Parecer cool nem sempre é legal
Sabe aqueles personagens que são sempre os mais descolados, os mais bem informados, os mais supostamente interessantes e vividos e conhecedores de tudo e/ou de todos? Pois é, são chatos, não é? Pessoas que tentam ser cool, populares e estilosas, mas que se tornam personagens de si próprios. Como li outro dia no Twitter, gente assim cansa e é fake demais para ser levada a sério.
Modéstia é bom, mas com moderação
Ninguém gosta de se exibir, mas modéstia em excesso ofusca seu real valor. Eu sei que isso também vem do patrulhamento atual e ostensivo das redes sociais, mas se autoboicotar não é a solução. Se você escreve e publica, se desenha e pinta, se filma vídeos ou faz qualquer outra atividade num nível profissional, assuma isso! Chame a si mesmo de ilustrador, designer, autor, pintor, artista, diretor, produtor etc e tenha orgulho de suas realizações, por (aparentemente) menores que sejam. Compartilhar suas realizações também ajuda a desenvolver credibilidade e respeito, além de dar visibilidade ao seu trabalho.
Se jogue de paraquedas
Como bem escrito no HBR pelo autor JD Schramm, os que sabem contar uma boa história "nos levam imediatamente para a ação". Isto é, conseguem a atenção, conduzindo a narrativa através de uma experiência única. Saiba que isso nem sempre é possível, de acordo com seu texto e a história a ser contada, mas, acima de tudo, tem que "ter encaixe" com seu estilo e ser o mais natural possível.
Conheça seu nicho
A maioria dos profissionais de sucesso tem um nicho, mesmo que baseado em adjetivos difíceis de definir. Esta é a parte da sua história que só você pode contar — a perspectiva que é especificamente sua. Significa que, conhecendo sua área de atuação, seus insights se tornam "pérolas" que seus leitores podem aplicar em seus próprios projetos e carreiras.
"Seja" seus projetos
Que temas você está explorando? Quais as causas, grandes ou pequenas, que importam para você? Com o tempo, esses temas se tornarão mais claros. Isto também é um grande componente para expandir o alcance do seu trabalho. Eu, particularmente, tenho os mais diversos interesses na área criativa, seja design, escrita, ilustração, arte, para ficar nos primeiros da lista. Mesmo assim, sempre sou transparente sobre o que é importante, já que isso se transforma em histórias interessantes para serem contadas.
Ser vulnerável é ser humano
Honestidade importa muito, mas não se subestime. Você é um humano, não uma empresa ou marca sem rosto. Se você passa por problemas ou dificuldades e tira disso lições e aprendizados, por que não dividir isso com os outros? Se tem limitações — todos temos — aborde-as no momento certo, até com bom humor. As mais pessoas mais interessantes que conheço e conheci não se levavam tanto a sério. Conforme definiu Sheryl Sandberg, executiva do Facebook, “pessoas não são marcas”.
Esses direcionamentos aqui, possivelmente, ajudarão você a se conhecer um pouco mais e a se expor com mais clareza, de uma forma que seja mais natural e mais humana também.
Então, agora vai lá e conte sua história. Seja escrevendo, criando um post no Instagram, fazendo um vídeo, live ou qualquer outra forma de conteúdo. Histórias cabem até na página "Sobre" do seu próprio site/portfolio. Do seu e-commerce. Apenas comece com um rascunho e vá encontrando o tom de sua narrativa. Depois, abrace-a com força e pronto: você tem uma história que é só sua! ■
Mix
Uma visão da vida criativa na mídia nesta semana:
Como uma placa de carro (com o texto) 'NULL' levou um hacker ao inferno dos boletos - Wired
(…) Parece que um banco de dados em algum lugar associava a palavra NULL às suas informações pessoais. O que significa que, sempre que um policial de trânsito se esquece de preencher o número da placa em uma multa, esta era enviada automaticamente para Joseph Tartaro. (…) - [Foto acima]
O streaming era parte do futuro - agora é o único futuro - The Verge
Nos últimos meses, Disney, NBCUniversal, WarnerMedia e ViacomCBS reestruturaram suas equipes para tornar o streaming o foco principal. Executivos de longa data foram demitidos, outros deixaram o cargo e os departamentos se fundiram num esforço para competir com a maior concorrência no mercado. (…)
Nos 20 anos de 'CSI' criador da série lembra seu maior trauma: a participação de Justin Bieber - O Globo
— Jamais gostaria de trabalhar novamente com Justin Bieber, foi péssimo — dispara o produtor, referindo-se aos dois episódios da 11ª temporada de “CSI” que contaram com a presença do cantor canadense, então com 16 anos. (…)
Bang! ✘ Alexandre Bobeda
Play
O que curti nos últimos dias e recomendo:
A entrevista do Maurício de Souza no Sem Censura, da TV Brasil. Um dos maiores autores/artistas do Brasil faz 85 anos e o Cebolinha, 60!
Archive, um filme com um final surpreendente (um belo twist, a la Twilight Zone!). Curti muito, mas ainda não tem em streaming por aqui, nem foi lançado. Via torrents.
Video Game Source, um projeto cujo objetivo é preservar e oferecer para estudo todos os materiais usados durante o desenvolvimento de um game (código fonte, artes, documentação etc). Um dos desdobramentos do projeto foi ter lançado um game perdido do Nintendo 8 bits, o Days Of Thunder, daquele filme homônimo com o Tom Cruise de 1990, que jamais fora lançado antes.
O novo disco do Groove Armada, Edge of the Horizon, que é ótimo! O GA é uma das minhas duplas favoritas de electronica do final dos anos 90 e continua mandando bem.
Creativity is a Choice, vídeo curtíssimo do Seth Godin que dá bem o seu recado: a criatividade é para todos e é também uma questão de escolha. Então, se puder — e sempre se pode — contribua com algo novo, algo generoso, algo que faça alguma diferença e leve a alguma melhoria. É assim que funciona.
Flashback
Lembra do
Olho Mágico?
Foi uma série de livros publicada pela Martins Fontes nos anos 90, que virou mania. Nas páginas, vários
autoestereogramas
, que davam a ilusão de imagens em três dimensões se se mantivesse o foco em algum ponto da página. Era como se a gente "entrasse" no livro. Tive exatamente esse e achava isso incrível! Ainda acho...
GIFInspiração
Voto consciente
Daqui a pouco mais de duas semanas, tem as eleições de Prefeitos e Vereadores. Vote com consciência, especialmente aqui no Rio: quem sabe, na próxima vez que os Simpsons estiverem aqui, teremos uma cidade mais digna.
Mondo é uma newsletter que tem histórias para contar. Encaminhe-a para alguém também tenha histórias para contar: estamos aqui para ouvi-las!
Volto dia 19/11.
Obrigado por ter lido esta edição. Obrigado por me acompanhar aqui. Use máscara e se cuida!
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